O que aprender com o Estigma
Adenáuer Novaes • 1 de agosto de 2021
O que aprender com o Estigma

A Vida nos oferece alguns enigmas a serem decifrados. Os Estigmas trazem pistas para desvendarmos nossos enigmas. Na postagem anterior falamos sobre o que são os Estigmas para a Psicologia do Espírito.
Você sabe identificar como o seu estigma funciona e como ele pode contribuir para seu processo de individuação?
Uma das questões mais importantes para o ser humano é encontrar um significado para as coisas, para o destino, para a vida e, principalmente, para si mesmo. Ao conectar os eventos do Universo que o cerca, algo que automaticamente sua psiquê faz em face da necessidade de estabelecer-se uma causalidade entre eventos, acredita que o sentido de tudo se aproxima de ser encontrado. Claro que tal sentido não está nas coisas nem no mundo, mas na mente que o elabora de acordo com um determinado propósito, isto é, com um sistema interior pré-definido. Esse sentido encontrado não foi conscientemente predeterminado, porém deverá ser reelaborado e cuidadosamente construído. De início, inconscientemente seguido, em face da existência de um núcleo embrionário que guia a natureza humana, à semelhança do Self. Posteriormente, com o surgimento da consciência e de seu amadurecimento, fa-lo-á segundo um propósito consciente, o que Jung chamou de Processo de Individuação, ou desenvolvimento da personalidade para que se torne madura, autodeterminada e proprietária de si mesma.
Por esse motivo, o ser humano deve sempre se perguntar, diante dos fenômenos da vida, quaisquer que sejam, o que é preciso aprender em face dessa circunstância. Uma lição tem de ser extraída, um conceito tem de ser aprendido, mesmo que provisoriamente aceito. Um entendimento de si mesmo deve ser elaborado para que avance, cada vez mais, na descoberta do sentido e significado da vida. Esse sentido deve ser apreendido em tudo, ainda que diferentemente para cada pessoa. Não importa se provisório ou não, pois sua existência possibilita a mente a ir adiante, contribuindo para o processo de autodeterminação do Espírito. Tudo que se faz deve estar relacionado a um propósito maior. Isso quer dizer que o Espírito deve buscar coerência em tudo que faça.
O estabelecimento da Teoria da relatividade por Einstein, em 1905, é um desses exemplos. A famosa equação (E=mc2) de equivalência de matéria e energia simboliza que a mente humana, não só seu criador, reduziu a tensão existente por conta da impossibilidade da Física Newtoniana, dita Clássica, atender à profusão de questões mal respondidas até então, a respeito de fenômenos materiais. A tensão foi dissolvida com as ideias relativísticas; nova tensão, porém, instalara-se com as ideias quânticas, surgidas poucos anos antes, que a teoria de Einstein não resolvera. A razão disso é a complexidade crescente que já havia chegado à Consciência, em particular, ao ego. Tudo leva a crer que ainda serão feitas muitas perguntas, pois carecemos de muitos sentidos para o entendimento da complexidade do Universo. Falta, à Física, a compreensão da Dimensão Espiritual. Com o seu conhecimento, as tensões serão aliviadas, fazendo surgir outras ainda mais complexas.
Enquanto aqueles enigmas não se resolvem, a Vida oferece, ao estigmatizado, sinais ou pistas que lhe servem para encontrar o caminho de seu autoconhecimento.
O estigmatizado deve tirar o máximo proveito do estigma. Primeiro, a tomada de consciência da existência do estigma; segundo, a busca de respostas ao “para quê” o estigma surgiu; terceiro, a consciência da sombra do estigma, isto é, o que de negativo ele provoca; quarto, o encontro da Designação Pessoal contida no estigma, isto é, a relação com a Individuação de seu portador. O entendimento de que o estigma o torna diferente e que essa diferença é parte integrante de sua atual personalidade é fundamental para reduzir a tensão gerada pela sua existência.
Ser diferente, numa sociedade em que todos querem parecer iguais e normais, é uma vantagem significativa em face da coragem de se mostrar como realmente se é. Essa coragem se sustenta na consciência de que o estigma é uma representação de parte da natureza do indivíduo, sem ser sua essência. É o entendimento de que se trata de uma máscara, ou persona, que pode ser suportada porque se conhece sua função, isto é, a serviço de que veio.
Podemos analisar as reações ao estigma de diferentes ângulos. As reações pelo ângulo de seu portador, as reações pelo ângulo das pessoas que lidam diretamente (família) com o estigmatizado e as reações da própria sociedade em que ele se insere. No primeiro caso, depende do tipo de estigma e da personalidade do portador; no segundo caso, há a tendência em minimizar o estigma a fim de que não recaia sobre os membros da família o que, pejorativamente, deveria ser apenas dirigido ao estigmatizado; no terceiro caso, o poder público e as instituições que cuidam do cidadão especial tendem a tratá-lo de forma diferenciada, visando compensar suas deficiências quando o estigma assim o exigir. Neste último caso, não há qualquer oferta gratuita de serviços psicológicos de orientação quanto ao estigma.
É claro que, quando o estigma é explicitamente discriminativo e gerador de preconceito, o estigmatizado desenvolve o autopreconceito. Ele próprio não aceita sua diferença quando ela o inferioriza explicitamente. Quando esse tipo de estigma é identificado por ele, inicia-se um processo de revolta e de autoculpa, atraindo a sombra pessoal. A contenção da invasão psíquica, proveniente da sombra inconsciente, poderá levar à consolidação da cisão entre o eu e o corpo ou entre o eu e a condição estigmatizante. O retorno à integração, anteriormente existente, só se fará mediante diversos tipos de experiências que favoreçam à compreensão e aceitação do estigma.
Para saber mais sobre este e demais assuntos tratados por Adenáuer Novaes, veja as obras publicadas pelo autor. Este conteúdo foi extraído do livro: Estigmas Segundo a Psicologia do Espírito.
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